A escola constitui um ambiente importante na configuração da realidade de vida dos professores e dos aspectos relacionados às condições e organização do trabalho docente, os quais repercutem sobre os processos de saúde/doença. Deve-se levar em conta a promoção de escolas saudáveis ou escolas promotoras de saúde, de maneira a angariar esforços canalizados para a transformação da escola em um ambiente favorável à saúde da comunidade que a constitui. Contudo, estudos mostram que, na maioria delas, o professor é pouco lembrado como sujeito das ações promotoras de saúde e pouco, ou nada, se sabe sobre essa condição.
A voz do professor é um recurso didático, por excelência, que permite uma comunicação ainda mais especializada ao trazer consigo entonações que enchem de significados os conteúdos curriculares, comportamentos e vivências, além de possibilitar a troca ampla de ideias e conhecimentos. No entanto, de posse dessas informações, não se percebe, em determinadas áreas, a preocupação adequada com a saúde do docente e, principalmente, acerca do adoecimento de suas estruturas vocálicas. Esse fator pode, de maneira direta ou indireta, impactar no aproveitamento escolar dos alunos de toda a rede.
As queixas relacionadas à voz mais comuns são: fadiga vocal, perda da voz, dor em região de garganta e rouquidão. Em muitos casos, o profissional não tem acesso à informação e prevenção sobre a voz, o que contribui para que a prevalência desses sintomas seja alta. O ambiente de trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios da voz. As características ambientais tidas como desfavoráveis abrangem ruído excessivo, temperatura, umidade, poeira, dentre outros; as variações na temperatura e umidade interferem na hidratação das mucosas faríngea e laríngea, fazendo com que o atrito da voz seja mais intenso. Atente-se aos sinais de alteração da voz, tais como: enfraquecimento ou perda da voz no final do período do trabalho; quebras na voz durante as explanações; voz rouca por vários dias; diminuição do volume da voz, gerando esforço para falar um pouco mais alto ou gritar; voz mais grave do que no início do exercício da profissão; necessidade de limpar a garganta (pigarrear); respiração curta ao falar; dor na região da garganta; sensação de queimação na garganta; esforço para falar e tosse seca.
Métodos de laboro simples, porém eficazes, podem ajudar a manter a voz do docente saudável, tais como:
- Evite a ingestão de álcool e de fumo. Esses dois fatores abusivos podem ocasionar câncer de laringe e pulmão;
- Beba, em média, 2 litros de água diariamente, em temperatura ambiente;
- Não fale durante os exercícios físicos; procure manter a respiração livre;
- Evite a exposição ao ar-condicionado e ventilador, se possível;
- Cuidado com ambientes de poeira acumulada, mofos e cheiros fortes;
- Spray e pastilhas têm efeito anestésico e mascaram sintomas; fator que pode ocasionar abuso vocal. Utilize-os apenas sob orientação médica;
- Evite ingerir leite e derivados antes da atividade vocal. Esses produtos aumentam a secreção no trato vocal;
- Repouse a voz após falar intensamente;
- Lembre-se de fazer aquecimento, reaquecimento (quando necessário) e desaquecimento vocal, antes das atividades laborais;
- Evite gritar; procure aproximar-se dos alunos para chamar a atenção ou fazer solicitações.
Segundo pesquisa realizada pela Universidade Metodista de Piracicaba e pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, apesar de razoavelmente satisfeitos com a voz (42,2%), os professores mostraram dificuldades na percepção do processo saúde/doença. Por isso, se você é docente, atente-se ao comportamento da sua voz ao exercer a atividade laboral.
Leandro Nascimento
Engenheiro de Segurança do Trabalho